Com manifestações nas principais cidades do país, milhares de marroquinos demonstraram que não aceitam as reformas constitucionais concedidas por Mohamed VI, e acusam o monarca de ter promovido uma farsa eleitoral no referendo da passada sexta-feira.
Dois dias depois da consulta popular promovida pelas autoridades, dezenas de milhares de pessoas voltaram a manifestar-se em Casablanca, Rabat, Tanger ou Marraqueche contra as alterações à Constituição propostas pelo rei e alegadamente aprovadas pelo povo num sufrágio ocorrido dia 1 de Julho.
Os contestatários não recuaram perante o aparato policial e as provocações realizadas por grupos pró-governamentais, e, nas ruas, insistiriam na necessidade de reformas mais profundas no texto fundamental, nomeadamente quanto à separação dos poderes executivo e legislativo, e ao papel de Mohamed VI.
Para muitos milhares de marroquinos, mesmo após as mudanças, o monarca conserva poderes discricionários em matéria política e religiosa.
Acresce que a mais antiga autocracia do mundo árabe exerce o poder num território marcado pela desigualdade e a injustiça social, razão que leva os participantes nos protestos das últimas semanas, particularmente os jovens, a exigir igualmente melhores condições de vida, medidas efectivas de combate à pobreza e perspectivas de futuro num país democrático.
O monarca sustenta que as alterações à Constituição foram aprovadas em referendo por 98 por cento dos eleitores, mas durante a campanha eleitoral três partidos minoritários coligados na plataforma Esquerda Democrática haviam denunciado irregularidades propositadas.
Entre as «falhas» indicadas no processo estão a não inscrição de milhões de cidadãos maiores de 18 anos, facto ao qual o governo diz ser alheio.
Recorde-se que em Marrocos vivem aproximadamente 23 milhões de pessoas com direito de voto, mas no referendo compareceram às urnas cerca de 9 milhões de pessoas num universo de 13,1 milhões registadas, isto é, 10 milhões de pessoas terão ficado de fora do registo eleitoral.